Dia: 28 de outubro de 2024

Investimento em energia renovável deve atingir US$ 2 trilhões no mundo ainda esse ano

Com um investimento em energia renovável de U$2 trilhões, o ano de 2024 é um marco para o setor energético, segundo o relatório Investimento Mundial em Energia, da Agência Internacional de Energia (IEA). O valor – que inclui melhorias de eficiência, veículos elétricos, redes, armazenamento, energia nuclear, combustíveis de baixas emissões e bombas de calor – representa dois terços do total de investimentos em energia. 

O crescimento é liderado pela energia solar fotovoltaica, que deve crescer em mais de U$500 bilhões neste ano e ser o destino de mais aporte financeiro do que todas as outras fontes de geração de energia juntas. Em relação a 2015, quando foi assinado o Acordo de Paris, os investimentos em diferentes tipos de energia renováveis eram o dobro em relação aos valores destinados às fontes fósseis. Neste ano, serão dez vezes mais do que o destinado aos combustíveis fósseis não atenuados (aqueles cujas emissões não passam por nenhum processo de captura ou armazenamento de carbono).

O que possibilita esse desenvolvimento é a redução de custos das tecnologias limpas. Em 2023, cada dólar investido em energia eólica e solar fotovoltaica rendeu 2,5 vezes mais produção de energia do que um dólar gasto nas mesmas tecnologias uma década antes. O custo dos painéis solares, por exemplo, teve queda de 30% nos últimos dois anos, e os preços de minerais essenciais para a transição energética também diminuíram drasticamente, especialmente os metais utilizados em baterias. Essas novas tecnologias de armazenamento de energia são fundamentais para garantir a estabilidade da rede elétrica e permitir a integração de fontes intermitentes. 

A busca por matrizes energéticas diversificadas e políticas públicas de incentivo ao uso de energias renováveis se somam a esse cenário. Os investimentos em energia limpa significam redução das emissões de gases de efeito estufa, geração de empregos, fortalecimento da segurança energética e diversificação da matriz energética brasileira. No entanto, ainda há desafios a serem enfrentados pelo setor, como a necessidade de ampliar os investimentos em infraestrutura e garantir acesso justo e equitativo à energia limpa.

Ranking de investimento em energias renováveis

Em 2024, a China deverá liderar o investimento em energia limpa, impulsionada pela demanda interna nas indústrias de energia solar, baterias de lítio e veículos elétricos. O valor estimado é de cerca de U$675 bilhões. 

Na sequência vêm a Europa e os Estados Unidos, com investimentos estimados de U$370 bilhões e U$315 bilhões, respectivamente. As três economias devem responder por mais de dois terços do aporte global em energia limpa, evidenciando as desigualdades no destino do capital internacional destinado ao setor.

A América Latina e o Caribe se destacam pelo uso de energias renováveis, com 60% de sua matriz energética composta por fontes limpas, principalmente hidrelétrica. Em 2024, o investimento em energia na região deve atingir U$185 bilhões, impulsionado pelo crescimento das energias renováveis, como a solar e a eólica offshore, e pelo desenvolvimento de estratégias de uso do hidrogênio de baixo carbono, especialmente no Brasil e no Chile. 

Metas Net Zero

Quase metade dos 33 países da América Latina e Caribe se comprometeram a atingir emissões líquidas zero até 2050. Para que essas metas sejam possíveis, será preciso aumentar em quatro vezes o investimento médio anual em energia limpa durante o período de 2026-2030, em comparação com a década anterior. Esse aumento de investimentos pode colocar a região no caminho certo para alcançar a neutralidade climática – mas, antes disso, chegaremos ao pico do consumo de combustíveis fósseis ainda nesta década.
O avanço de projetos de energias renováveis no Brasil tem um papel importante nesse cenário. O país se destaca pelo avanço da energia eólica offshore e o desenvolvimento de investimentos em hidrogênio. Para atingir as metas de emissões líquidas zero até 2050, o investimento em energia limpa, no entanto, precisará continuar aumentando, assim como em toda região, o que exigirá esforços para reduzir o custo do capital e mitigar os riscos macroeconômicos.

Descubra como funcionam os green bonds e como eles ajudam nos projetos sustentáveis

Títulos de renda fixa que destinam os recursos obtidos, exclusivamente, para o financiamento de projetos com benefícios ambientais. Essa é a definição dos green bonds ou títulos verdes, produto financeiro que se tornou um importante instrumento para fomentar uma economia de baixo carbono. À medida que a necessidade de desenvolvimento sustentável se tornou mais evidente, os green bonds ficaram mais atraentes para quem busca investir e manter suas metas econômicas alinhadas com valores sustentáveis.

Empresas de diferentes setores, governos e instituições multilaterais podem emitir green bonds. No Brasil, Petrobras, Banco do Brasil e o próprio governo são apenas alguns dos que já lançaram seus títulos verdes. O Banco Mundial e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) também são emissores desses títulos.

Segundo a Green Bonds Initiative, títulos verdes, sociais e sustentáveis em circulação no mundo ultrapassaram US$ 4 trilhões, em 2023, e continuam crescendo. Só na Europa, houve o recorde de US$ 347 bilhões em títulos verdes no ano passado, apontam dados do Institute for Energy Economics and Financial Analysis (IEEFA).

Esses valores são apenas um indicador do fluxo de capital e, segundo a Green Bonds Initiative, precisa ser multiplicado por dez para chegar ao patamar necessário ao desenvolvimento de uma economia de baixo carbono. Esse mesmo valor, no entanto, representa um aumento de mais de 100 vezes em relação a uma década atrás.

Retorno financeiro

Investir em green bonds proporciona retorno financeiro atrativo, com taxas de juros competitivas em relação ao mercado de renda fixa tradicional. Este aspecto financeiro torna os títulos verdes uma opção viável e interessante para investidores que buscam boas oportunidades de rendimento.

Além do retorno financeiro, os títulos verdes permitem que os investidores contribuam diretamente para um futuro mais sustentável. Os recursos captados são direcionados para projetos que promovem impactos ambientais positivos, como a redução das emissões de carbono e o aumento da eficiência energética.

Outro benefício dos green bonds é a diversificação do portfólio de investimentos. Eles oferecem uma alternativa sólida para os investidores que desejam ampliar suas opções. A transparência é garantida, pois a aplicação dos recursos é rigorosamente monitorada e divulgada aos investidores, assegurando a credibilidade e a confiança no uso dos fundos.

Para serem aplicados, os green bonds precisam ser verificados por instituições responsáveis por avaliar e atestar a validade dos projetos sustentáveis que serão financiados. A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) e o Conselho Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) são as instituições que realizam essas avaliações no Brasil.

Como são emitidos os green bonds?

O processo para emitir um título verde é semelhante ao de um título convencional. Empresas ou governos desenvolvem um projeto com foco ambiental. Depois disso, o título passa por uma certificação. 

Os green bonds são analisados por uma entidade independente para atestar que os recursos serão destinados a projetos sustentáveis. Só então é feita a emissão por um intermediário, como um banco ou uma agência financeira. Após a emissão, relatórios sobre os investimentos realizados com os recursos dos títulos verdes precisam ser publicados.

Em novembro de 2023, o governo brasileiro emitiu seus primeiros títulos verdes. Esses green bonds permitem ao governo captar recursos de investidores, com a promessa de reembolsar o valor com juros em um prazo específico. O novo título é emitido no mercado internacional, em dólares. O prazo é de sete anos e o vencimento, em 2031.

Projetos sustentáveis

Os fundos obtidos por meio dos green bonds devem ser empregados exclusivamente em projetos sustentáveis, por exemplo: 

  • parques eólicos e solares para a geração de energia limpa e renovável; 
  • construções verdes que utilizam eficiência energética e materiais sustentáveis;
  • sistemas de transporte público mais limpos e eficientes;
  • tratamento de água e esgoto para melhorar a qualidade da água e reduzir a poluição;
  • iniciativas de florestamento e reflorestamento que protegem a biodiversidade e combatem o desmatamento.

Em setembro, o governo apresentou o Arcabouço Brasileiro Para Títulos Soberanos Sustentáveis, um documento que formaliza o compromisso do Brasil com os potenciais compradores de títulos da dívida externa do país para a implementação de políticas sustentáveis. 

O documento detalha as despesas que podem ser financiadas com os recursos arrecadados, incluindo a produção de energia renovável, controle do desmatamento na Amazônia e no Cerrado, além de investimentos em saneamento básico.A AES Brasil foi a primeira empresa no país a emitir títulos verdes para um projeto solar em 2019. Desde então, já foram feitas quatro emissões até 2022. Os primeiros ativos da empresa beneficiados por essa emissão foram os Complexos Solares Guaimbê e Ouroeste, em São Paulo. Totalizando R$ 820 mil, os títulos representaram 75 mil toneladas de CO2 que deixaram de ser emitidas.