Dia: 10 de outubro de 2023

Quais os benefícios sociais e econômicos da energia eólica para o Brasil?

Entre as fontes de energia, a eólica é a que tem o menor impacto ambiental. Possibilita, ainda, benefícios sociais e econômicos, porque:

  • Cidades onde são instalados parques eólicos registram alta no Produto Interno Bruto (PIB) e no Índice de Desenvolvimento Humano do Município (IDHM), segundo o estudo “Impactos socioeconômicos e ambientais da geração de energia eólica no Brasil”, publicado em novembro de 2020 pela Associação Brasileira de Energia Eólica e Novas Tecnologias (Abeeólica).
  • Nesses municípios, há geração de renda e de empregos (diretos e indiretos), além da criação de negócios (com aumento do número de novos estabelecimentos) e de incremento na receita pública.
  • Trata-se de uma fonte limpa e renovável, sem emissão de gases de efeito estufa durante a operação dos parques eólicos.
  • A energia eólica é sustentável e contribui para que o Brasil cumpra objetivos estabelecidos pelo Acordo do Clima de Paris.

“Em termos de representatividade e abastecimento, a geração verificada pela fonte eólica em 2022 foi responsável por 13,52% na média de toda a geração injetada no Sistema Interligado Nacional (SIN)”, segundo a edição de 2022 do “Boletim Anual” da Abeeólica. 

Considerando toda a matriz elétrica brasileira, atualmente, a eólica fica atrás apenas da hidrelétrica, com 54,1% (veja números mais abaixo)

“A eólica deixou de ser uma fonte ‘alternativa’ para ter um papel fundamental na matriz elétrica brasileira”, explica a Abeeólica na publicação.  Essa mudança de status é creditada, sobretudo, à qualidade dos ventos no Brasil – “estáveis, com intensidade certa e sem mudanças bruscas de velocidade ou de direção”. Na prática, significa uma capacidade duas vezes maior que a média mundial. 

Impactos socioeconômicos e ambientais

Publicado pela entidade em 2020, o estudo “Impactos socioeconômicos e ambientais da geração de energia eólica no Brasil” aponta que, entre os municípios analisados, aqueles com parques eólicos tiveram desempenho melhor em indicadores econômicos e sociais, na comparação com cidades sem essas instalações. No IDHM, o resultado foi 20,19% superior (entre 1999 e 2017). No PIB, 21,15% (entre 2000 e 2010). 

A Abeeólica divulgou uma nova pesquisa em fevereiro de 2022, intitulada “Estimativas dos impactos dinâmicos do setor eólico sobre a economia brasileira”. 

“No caso do impacto do PIB, partimos do valor investido de 2011 a 2020, que foi de R$ 110,5 bilhões na construção de parques eólicos. Por meio de metodologia que calcula efeitos multiplicadores de diferentes tipos de investimentos, chegamos ao valor de mais R$ 210,5 bilhões referentes a efeitos indiretos e induzidos, num total de R$ 321 bilhões. Isso significa que cada R$ 1 investido num parque eólico tem impacto de R$ 2,9 sobre o PIB, após 10 a 14 meses, considerando todos os efeitos”, afirma Bráulio Borges, responsável pelo estudo, em citação reproduzida no site da entidade.  

A pesquisa apontou ainda que, entre 2011 e 2020, foram criados quase 196 mil postos de trabalho no país em razão da instalação de parques eólicos – ou 10,7 empregos por MW instalado na fase de construção dos parques. 

Quanto à redução de emissões de CO2, a previsão é que, no acumulado de 2016 a 2024, o setor eólico nacional deverá evitar emissões de gases do efeito estufa em cifra entre R$ 60 bilhões e 70 bilhões. 

Números da energia eólica no Brasil

  • A energia eólica gerada no Brasil em 2022 equivale ao suficiente para abastecer, mensalmente, 41,5 milhões de residências (ou 124 milhões de pessoas). 
  • No acumulado, já foram investidos mais de R$ 576 bilhões na capacidade de energia eólica instalada no país.
  • Mais de 300 mil postos de trabalho (entre diretos e indiretos) foram gerados na construção de parques eólicos. Isso representa 10,7 empregos por MW instalado.
  • As eólicas movimentaram R$ 321 bilhões entre 2011 e 2020, segundo estudo da Abeeólica. Desse total, R$ 110,5 são fruto de investimentos diretos na construção de parques eólicos; outros R$ 210,5 bilhões decorrem dos chamados “efeitos indiretos”.
  • Municípios com parques eólicos tiveram resultado no PIB 21,15% melhor em comparação com aqueles sem essas instalações. 
  • Municípios com parques eólicos tiveram resultado no IDHM 20,19% melhor em comparação com aqueles sem essas instalações.
  • A estimativa é que, no período de 2016 a 2024, o setor eólico no Brasil tenha evitado emissões de gases do efeito estufa em uma cifra que fique entre R$ 60 bilhões e R$ 70 bilhões.
  • A energia eólica representa 13,4% (25,6 GW) da matriz elétrica brasileira, ficando atrás apenas da hidrelétrica, que tem 54,1% (103,2 GW), segundo a edição de 2022 do Boletim Anual da Abeeólica.
  • O Brasil chegou, ao fim de 2022, a um total de 904 usinas eólicas instaladas.
  • Ao longo do ano passado, 109 parques eólicos foram instalados por aqui. Segundo o Conselho Global de Energia Eólica (GWEC, na sigla em inglês), o Brasil foi o terceiro país no mundo que mais fez esse tipo de instalação.

Tucano, um parque eólico operado 100% por mulheres

O Complexo Eólico Tucano, primeiro no Brasil operado por uma equipe local formada apenas por mulheres, foi inaugurado em 3 de outubro na Bahia. Localizado nos municípios de Tucano, Biritinga e Araci, no interior do estado, está entre os 23 ativos 100% renováveis da AES Brasil. “A AES abraçou mesmo esses dois pontos muito importantes para que a gente tenha um mundo melhor: a transição energética e a equidade de gênero”, aponta Juliana Oliveira, coordenadora no complexo.

Uma joint venture AES Brasil e Unipar

Parte do projeto foi construída em parceria com a Unipar, líder na produção de cloro e soda e segunda maior produtora de PVC na América do Sul. Do total de 322 MW de capacidade instalada do complexo, a joint venture Unipar e AES Brasil soma 155 MW de energia renovável para a empresa química, no sistema conhecido como Autoprodução

O que é Autoprodução?

É uma modalidade na qual o consumidor gera a energia que consome nas suas unidades de negócio. Entre as vantagens de ser um autoprodutor estão a redução de encargos, previsibilidade de custos e maior sustentabilidade – no caso daqueles que optam por fontes renováveis, como eólica, solar ou hídrica.

As grandes empresas assumiram grandes compromissos. Todas elas têm necessidade de uma energia competitiva, renovável e sustentável. Essa demanda é o principal foco da AES, em poder estruturar soluções para atender e satisfazer essa necessidade do mercado”, destaca Rogério Pereira Jorge, CEO da AES Brasil.

Metas de sustentabilidade

O acordo garantirá à Unipar energia limpa e renovável por um período de 20 anos, com fornecimento de 2023 até 2043. A parceria é parte da meta da empresa de alcançar 100% de toda a demanda de energia elétrica das operações no Brasil oriundas de fontes renováveis até 2025 ­- sendo 80% por meio de contratos de autoprodução, como este na Bahia.

Assista ao vídeo e conheça mais sobre o novo Complexo Eólico Tucano

“Sustentabilidade, para nós, é um tema muito importante. Primeiro, porque somos uma empresa química, a energia é um dos principais insumos que nós temos. Nós precisávamos de energia renovável e nós fomos buscar um parceiro que trouxesse o conhecimento técnico, a solidez financeira, a tradição”, afirma o CEO da Unipar, Maurício Russomanno, sobre a parceria com a AES Brasil

Como funcionou a capacitação feminina para a operação do parque eólico?

Parte das colaboradoras que comandam a operação e manutenção do complexo foi capacitada em uma iniciativa da AES Brasil em parceria com o Senai-BA (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial da Bahia). Ao todo, 28 alunas foram formadas no ano passado no curso de Capacitação em Especialização Técnica em Operação e Manutenção de Parques Eólicos, oferecido gratuitamente e exclusivo para formação de mulheres no setor energético.

“O Complexo Eólico Tucano é um projeto importante por inúmeras razões. Além de contribuir para a transição energética e ser pioneiro no Brasil com um time de Operação & Manutenção composto apenas por mulheres, ele é o primeiro projeto eólico construído pela AES Brasil no país e, com isso, materializa tanto nossa estratégia de crescimento como nossas credenciais para execução de projetos desse tipo”, destaca Rogério Jorge.

Especificamente na Bahia, a companhia já opera o Complexo Eólico Alto Sertão II desde 2017.

Hidrogênio verde deve movimentar US$ 1,4 tri ao ano até 2050

Considerado umas das tecnologias mais promissoras e sustentáveis entre as ações de governos e indústrias internacionais para conter as mudanças climáticas, o hidrogênio verde deverá redesenhar o mapa global de energia até o fim da década de 2020, com possibilidade de movimentar, anualmente, US$ 1,4 trilhão até 2050. É o que aponta um relatório sobre o tema divulgado pela consultoria Deloitte.

“A chegada ao mercado e consequente expansão do hidrogênio verde – produzido a partir da divisão de moléculas de água, separando seus átomos de hidrogênio do átomo de oxigênio por meio da eletricidade gerada por fontes renováveis – pode mudar o mix global de fontes de energia, ajudando a transformar os próprios sistemas produtivos. Pode, ainda, revelar novos caminhos para gerar valor e o desenvolvimento econômico sustentável”, diz o material.

Intitulado “Perspectivas globais para o hidrogênio verde 2023 – Energizando o caminho para a descarbonização”, o estudo parte da perspectiva de se atender à meta estabelecida pelo Acordo de Paris: manter a temperatura do planeta com uma elevação “muito abaixo de 2°C”, mas “perseguindo esforços para limitar o aumento de 1,5°C”. Para tanto, é necessária a substituição de sistemas dependentes de combustíveis fósseis por aqueles movidos por fontes de baixo carbono.  

Substituto de combustíveis como gasolina, diesel, gás e carvão, o hidrogênio depende de uma enorme quantidade de energia para ser obtido. Há alguns anos, esse processo passou a ser feito com uso de energias renováveis (eólica e solar), o que resultou no chamado hidrogênio verde. 

O estudo destaca que “atividades como aquecimento em alta temperatura, fornecimento de matéria-prima para produtos químicos ou fretes pesados são realmente difíceis de se eletrificar completamente”. Considerado uma molécula versátil, o hidrogênio verde tem potencial para transpor essa barreira.

“Hoje, o suprimento de hidrogênio depende quase inteiramente do método conhecido como reforma de gás natural e da gaseificação do carvão, processos com emissões intensivas em carbono (mais de 1 Gt de emissões de CO2 ao ano). O grande avanço está no potencial de hidrogênio limpo de descarbonizar o suprimento atual e de possibilitar novos usos finais em escala. O hidrogênio verde é a tecnologia mais promissora e sustentável de fato. O hidrogênio azul, produzido por meio de gás natural associado à captura e armazenamento de carbono, também pode ser rotulado como ‘limpo’, desde que atenda a rigorosos padrões de emissões de metano e captura de carbono.”

Acesse o relatório da Deloitte, em inglês

Previsão de movimentação de mercado

Segundo o documento, o hidrogênio verde deve alcançar as seguintes receitas anuais: 

  • US$ 642 bilhões em 2030 
  • US$ 980 bilhões em 2040
  • US$ 1,4 trilhão 2050

A previsão é que, em 2050, o hidrogênio verde represente em torno de 85% do mercado de hidrogênio. Dessa fatia, 20% seriam negociados internacionalmente. 

“Este cenário é duplamente importante. Primeiro, por se tratar de um mercado fundamental para descarbonizar a economia mundial com custos menores. Segundo, porque a produção e exportação de hidrogênio verde realinharia o desenvolvimento sustentável global, colocando países em desenvolvimento e emergentes da África, da América Latina e da região do Oceano Pacífico ao lado de economias como Austrália e Estados Unidos e regiões como os Estados do Golfo”, diz o relatório. 

Leia também: AES Brasil e governo do Ceará realizam estudo para viabilizar produção de hidrogênio 100% verde   

A estimativa é que a economia de hidrogênio verde estimule a criação de 1 milhão de novos postos de trabalho, anualmente, até 2030 – número que poderá dobrar nas duas décadas seguintes. E países em desenvolvimento responderiam por 1,5 milhão desses empregos anuais.

Investimentos globais em hidrogênio verde

Segundo o estudo, será necessário um investimento superior a US$ 9 trilhões na cadeia de abastecimento de hidrogênio verde para que se chegue à neutralidade de carbono até 2050. Um terço disso seria aplicado em economias em desenvolvimento.

“Os números podem parecer assustadores, mas a parcela média anual desse investimento dentro dos próximos 25 anos é significativamente menor que os US$ 417 bilhões gastos globalmente na produção de petróleo e gás em 2022. Se governos e empresas redirecionarem esses recursos para o hidrogênio limpo, pode resultar num esforço administrável”, compara.

As regiões que mais consomem, também responsáveis por mais de 50% da produção, devem ter os seguintes aportes:

  • China – US$ 2 trilhões
  • Europa – US$ 1,2 trilhão
  • América do Norte – US$ 1 trilhão  

Nas emergentes, os investimentos necessários seriam estes: 

  • Norte da África – US$ 900 bilhões 
  • América do Sul – US$ 400 bilhões 
  • América Central – US$ 300 bilhões
  • África Subsaariana – US$ 300 bilhões

Para que isso seja viável, alerta o estudo, será necessário apoio político, decisivo para “ajudar a ampliar a economia do hidrogênio limpo e garantir que, especialmente, o hidrogênio verde desempenhe seu papel necessário no caminho para a neutralidade climática”. 

Segundo o material da Deloitte, até o momento, mais de 140 países adotaram metas de emissão zero de carbono. Coletivamente, eles são responsáveis por 88% da emissão global de CO2