Transformação digital, IA e inovação no setor de energia: conheça as tendências para 2024
A abertura do Mercado Livre de Energia demanda soluções inovadoras para reduzir custos, aproximar comercializadoras e clientes e tornar a rede elétrica mais eficiente, renovável e tecnológica. Esses e outros temas estão no radar das tendências para o setor elétrico em 2024, impulsionados pelos avanços em análise de dados e inteligência artificial.
Para traçar um cenário da transformação digital do setor, o blog conversou com a gerente de P&D e Inovação da AES Brasil, Julia da Rosa Howat Rodrigues. “A transformação digital no setor de energia no Brasil está em ascensão, promovendo eficiência operacional, sustentabilidade e serviços personalizados”, diz Julia. Confira:
Quais tendências merecem destaque em inovação no setor de energia em 2024?
A digitalização do setor é uma delas, com certeza. Com a abertura de mercado, desponta a necessidade de trazer maior inteligência, por meio de soluções tecnológicas e inovadoras, para aproximar clientes e comercializadoras e reduzir custos. A transformação digital busca tornar a rede elétrica mais eficiente, renovável e tecnológica, o que inclui a implementação de redes inteligentes, que permitem aos consumidores gerenciar o consumo em tempo real — e impulsiona as comercializadoras para além da compra e venda de energia.
Os avanços em inteligência artificial (IA) e análise de dados permitirão ganhos crescentes no mercado livre, onde os comercializadores terão acesso a mais informações, podendo criar produtos específicos que atendam às particularidades do uso de energia de cada cliente.
Outra forte tendência é a eletrificação do consumo, especialmente no setor de transportes, vista como crucial para atingir metas de redução de emissões [de gases de efeito estufa]. Apesar dos desafios, avanços tecnológicos e pressões ambientais aumentam a urgência na mudança de paradigma.
O hidrogênio verde também merece atenção, pois é visto como um catalisador para a transição energética mais rápida — especialmente nos setores de difícil descarbonização. Ele é considerado fundamental para a reestruturação do setor elétrico e está incluído no Plano Nacional de Energia 2050. Com a regulamentação dos mercados de carbono e de hidrogênio, em discussão no Brasil, o tema ganha relevância.
A transformação digital do setor elétrico está avançando no país? Em quais áreas especialmente?
Com certeza, principalmente quando falamos de dados. Até pouco tempo atrás, não se tinha acesso a sistemas de armazenamento de grande volume de dados. Hoje, já é possível o armazenamento em nuvem de grandes históricos de dados que são coletados e processados em intervalos muito curtos, até mesmo de segundo em segundo, o que traz infinitas possibilidades de desenvolvimento, seja para análise da operação ou até para aplicação de IA na previsibilidade e antecipação de eventos.
O uso de tecnologias como Internet das Coisas (IoT, na sigla em inglês) tem impulsionado o rápido crescimento de dispositivos ativos — que coletam dados e respondem de forma inteligente ao usuário —, estimando-se mais de 25,4 bilhões até 2030.
A digitalização está abrindo novas oportunidades e promovendo uma mudança significativa no setor de energia. Empresas adotam soluções digitais para otimizar processos, desde a geração de energia até a gestão da demanda, destacando avanços como medidores inteligentes, uso de sensores e inteligência artificial.
Especialmente no setor de energias renováveis, a digitalização contribui para maior produtividade, redução de custos e diminuição das emissões. Microrredes e comunidades energéticas descentralizam a geração e distribuição de energia, enquanto redes inteligentes incorporam medidores inteligentes para automatizar a coleta de dados e otimizar o equilíbrio entre oferta e demanda de energia renovável.
Relatórios indicam que a digitalização pode gerar economia de 20% em despesas operacionais, além de ganhos de 20% a 40% em produtividade, segurança e compliance.
Quais são os principais desafios à inovação no setor de energia atualmente?
A integração eficiente de inovações com o sistema atual é crucial para impulsionar a transição energética, além de expandir e aprimorar a infraestrutura de comunicação para garantir a transmissão rápida e segura de dados entre os dispositivos e sistemas da rede inteligente. O uso de tecnologias como blockchain necessita do envolvimento de agentes como a câmara de comercialização [CCEE – Câmara de Comercialização de Energia Elétrica], as concessionárias e a agência reguladora [Aneel – Agência Nacional de Energia Elétrica] para trazer padronizações para todo o mercado.
No tema da regulamentação, os mercados de hidrogênio e carbono aguardam definições para alavancarem e viabilizarem investimentos à medida que diferentes certificações surgem baseados em interesses locais.
Tecnologias como a inteligência artificial já são uma realidade no setor? Como elas contribuem para a inovação?
O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) utiliza modelos de inteligência artificial para prever carga, vazão, vento, entre outros, desempenhando um papel crucial na antecipação de eventos. Essa abordagem melhora a preparação da operação, permitindo maior previsibilidade e otimização da rede elétrica, incluindo previsão de demanda, detecção de comportamentos atípicos e identificação de falhas em tempo real.
Na operação e manutenção de usinas, os modelos de IA podem otimizar paradas de máquinas, reduzindo custos e aumentando a eficiência operacional. Do lado da demanda, a aplicação de IoT facilita o monitoramento e gerenciamento eficazes da energia, com medidores inteligentes e conectividade acessível, proporcionando farto acesso à informação.
Como a AES Brasil se situa no contexto da inovação no setor de energia nacional?
Nos últimos 10 anos, a AES Brasil investiu mais de R$ 90 milhões em projetos de pesquisa, desenvolvimento e inovação, sendo a primeira empresa do setor a utilizar recurso regulado da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para investir em startups. Sempre com foco no cliente, nosso portfólio de inovação busca oferecer novos produtos que auxiliem na jornada de descarbonização. Também trazemos autonomia na gestão de consumo, de forma mais eficiente e reduzindo custos, além de buscar novas tecnologias para melhorias operacionais, oferecendo, assim, uma energia limpa e segura.
A empresa segue investindo em parceria com startups, universidades, centros de pesquisa e demais agentes de inovação. Queremos explorar todas as oportunidades e desenvolver novos negócios que contribuam com o futuro do setor.
O que é blockchain e para que serve?
O blockchain é uma tecnologia de registro digital onde as transações são armazenadas de forma transparente, imutável e descentralizada. Em vez de depender de uma autoridade centralizada, como um banco ou governo, o blockchain é mantido por uma rede de computadores interconectados que validam e registram as transações. Os dados são organizados em blocos interligados, formando uma cadeia, daí o nome “blockchain”, e uma vez que uma transação é registrada em um bloco, ela não pode ser alterada ou excluída sem o consenso da maioria dos participantes da rede, tornando o blockchain extremamente seguro contra fraudes.