Indústria química brasileira avança com soluções sustentáveis e pode liderar ‘produção verde’
Em um cenário em que as importações seguem causando impacto, a indústria química brasileira teve um papel significativo na economia nacional em 2023. O setor, que tem no processo de descarbonização e nas soluções sustentáveis uma oportunidade de protagonismo, representa 11% do PIB industrial, tem a terceira maior participação na indústria de transformação e ocupa a sexta posição no ranking das maiores indústrias químicas do mundo, de acordo com relatório da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim). O faturamento líquido foi de US$ 167,4 bilhões — queda de 13,7% em relação a 2022.
O segmento de Químicos Industriais, que fabrica produtos para indústrias de diversas áreas, liderou o faturamento do setor em 2023, chegando a US$ 60 bilhões, seguido por Produtos Farmacêuticos com US$ 34 bilhões e fertilizantes com US$ 25,5 bilhões. Os volumes de produção apresentaram redução de 8,75% em comparação ao ano anterior e de 18% em relação a 2016, a maior queda da série histórica.
O saldo da balança comercial da indústria química teve uma diminuição de 25,4% em comparação ao ano anterior. O aumento de 3,5% nas importações e a redução de 9,5% nas exportações contribuíram para o declínio, impactado pelos preços baixos dos produtos importados.
Participação no Mercado Livre de Energia
A participação do setor no Ambiente de Contratação Livre (ACL) de energia elétrica é relevante, ocupando o quinto lugar, por ramo de atividade, e o quarto no consumo entre os segmentos industriais, atrás apenas dos setores de Metalurgia e Produtos de Metal, de Alimentos e de Minerais.
Segundo dados da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), o consumo do ramo de Químicos foi afetado negativamente (-1,7%) devido a uma menor taxa de produtividade, impactada pelo aumento das importações.
Desempenho sólido
Apesar dos desafios enfrentados com a concorrência de produtos importados e o déficit na balança comercial, o desempenho da indústria química brasileira em 2023 foi sólido. O setor é o maior arrecadador de tributos federais, contribuindo com R$ 30 bilhões, o que representa 13,1% do total arrecadado pela indústria.
Os investimentos também foram significativos, com US$ 1,4 bilhão programado até 2027. Isso será importante para manter a competitividade e fomentar a inovação, especialmente em um cenário global onde a descarbonização e as soluções sustentáveis, como a eficiência energética, ganham cada vez mais importância.
Química verde e potencial da bioeconomia
A necessária transição para uma economia mais sustentável e para a descarbonização é um caminho inevitável. Com uma matriz energética predominantemente renovável, o Brasil tem a oportunidade de liderar no cenário global a química verde, que envolve o uso de matérias-primas renováveis, redução do consumo de água, maior eficiência energética e a reutilização de resíduos.
Empresas brasileiras estão na vanguarda desses processos, desenvolvendo produtos a partir de fontes sustentáveis. Os exemplos incluem a produção de álcool a partir da cana-de-açúcar e a fabricação de plásticos com eficiência máxima e desperdício mínimo.
As perspectivas para a indústria química brasileira são promissoras. A bioeconomia oferece um vasto potencial para o desenvolvimento de bioprodutos e biocompostos como soluções sustentáveis para substituir os produtos químicos tradicionais. A utilização de biomassa e recursos renováveis não apenas reduz a dependência de fontes fósseis, mas também diminui as emissões de carbono e promove a economia circular mais eficiente.
Para isso, é fundamental a criação e implementação de políticas públicas que incentivem a inovação, a sustentabilidade e ações climáticas, assegurando que a indústria química brasileira continue a crescer e a contribuir significativamente para a economia do país. É preciso que essas medidas acompanhem o caminho da transição.
Melhorar a oferta de gás natural a preços competitivos, expandir a matriz energética limpa e viabilizar a produção de hidrogênio verde são algumas das medidas necessárias. A implementação delas poderá posicionar o Brasil como um líder global na indústria química sustentável. Os reflexos serão sentidos positivamente nas demais cadeias de produção e de setores da economia.