O que esperar dos impactos do El Niño nas safras brasileiras em 2024
Ondas de calor, secas, chuvas fortes e inundações registradas nos últimos meses estão entre as manifestações do fenômeno climático El Niño no Brasil. E as consequências já se fazem notar na produção agrícola nacional, que abastece o setor de alimentos.
O clima extremo tem atrasado o plantio da nova safra em alguns estados, o que pode gerar um efeito cascata na semeadura e na colheita das safras seguintes, de acordo com o Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA) realizado pelo IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
Além das temperaturas mais altas, o El Niño no Brasil é caracterizado por um verão chuvoso no Sul, maior irregularidade de chuvas no Centro-oeste e chuvas abaixo da média histórica no Norte e Nordeste.
O excesso de chuvas na região Sul já está comprometendo a semeadura de produtos como soja, milho e feijão. No centro-norte do país, estima-se que todo o ciclo da safra de 2023 e 2024 aconteça com chuvas abaixo da média nos principais estados produtores, como Mato Grosso, Tocantins, Piauí, Maranhão e Bahia. Nesta região, é a primeira safra do milho e também a soja e o algodão que já sofrem com a irregularidade das chuvas e o calor. E as perspectivas não são de melhora, por enquanto.
“O El Niño está em um estágio forte e deve atingir seu pico entre dezembro de 2023 e janeiro de 2024. A tendência é que o fenômeno se enfraqueça nos meses seguintes e tenha duração até o fim do primeiro semestre. Nesse período, espera-se que as chuvas continuem no Sul, que fiquem abaixo da média na região Norte e as temperaturas acima da média no Sudeste.” explica Leandro Rocha, meteorologista e especialista de Preços da AES Brasil.
Com isso, as safras de inverno devem acontecer ainda sob os efeitos do El Niño, e as temperaturas muito acima da média podem encurtar o ciclo das culturas e reduzir o potencial produtivo. A Organização Meteorológica Mundial (OMM), vinculada à ONU, aponta que 2024 pode ser o ano mais quente da história no mundo todo – superando 2016.
No Brasil, o IBGE prevê uma queda de 2,8% na safra de grãos, cereais e leguminosas no ano que vem. Serão 308,5 milhões de toneladas – 8,8 milhões de toneladas a menos que em 2023. A única previsão de aumento é na produção de arroz em casca – 10,5 milhões de toneladas em 2024, 2,5% a mais que no ano anterior.
Já a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) trabalha com a estimativa de 319,5 milhões de toneladas de grãos produzidos na safra 2023/2024 e 30,85 milhões de toneladas de carnes – somando aves, bovinos e suínos.
Fontes: IBGE, Agrolink e Companhia Nacional de Abastecimento